Paulistano é bicho estressado. Por que será?

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22 maio 2017

Trânsito, urbanização e privações sociais afetam a saúde mental dos paulistanos

Em 2015, Guilherme Loverbeck sofreu um acidente no trânsito que literalmente mudou sua vida. Após voltar mais cedo do trabalho para escapar do rodízio de sexta-feira, pegou no sono ao volante dentro de um túnel na zona sul da cidade. Foram poucos segundos, mas o suficiente para causar engavetamento com três carros, colocar em risco a vida de duas crianças e dar perda total no carro. Desde então, o analista de marketing decidiu trocar o carro pelo transporte público e garante que está se sentindo mais seguro e descansado.
Aos 27 anos, Guilherme passou pelo acidente ileso e mudou seus hábitos, diminuindo as situações de risco às quais está exposto no dia a dia. No entanto, ele não é o único a passar por situações estressantes numa cidade como São Paulo. Na verdade, 29,6% das pessoas que moram na região metropolitana da cidade têm algum tipo de transtorno como ansiedade, depressão ou consumo exagerado de substâncias lícitas ou ilícitas que fazem mal à saúde.
O dado é da pesquisa São Paulo Megacity, realizada pelo Hospital das Clínicas em 2012 e faz parte de uma série de estudos que levantou dados sobre outros 24 países ao redor do mundo. Segundo a psiquiatra e pesquisadora Laura Helena Andrade, que coordenou a pesquisa no Brasil, 19,9% dos mais de 5 mil entrevistados apresentaram transtornos de ansiedade no ano anterior à pesquisa. 11% apresentaram transtorno de comportamento e 3,6% dos entrevistados admitiram abusar de substâncias que fazem mal à saúde no mesmo período.

Duas variáveis se destacam nesta análise: a alta urbanização e a privação social. “Existiam dados na literatura mostrando que esses transtornos mentais têm alta prevalência em áreas urbanas. Por isso observamos o efeito de exposição à urbanicidade, isto é, as pessoas que viveram a maior parte da vida em região urbana. Levamos em conta também a variável da privação social, estrutura etária da população, setor censitário, escolaridade do chefe de família, migração e exposição a eventos traumáticos violentos”, afirma Laura.

Como era de se esperar, o trânsito faz parte desse contexto e a mudança de hábito passa por uma série de decisões conscientes, como a do administrador Gabriel Ribeiro, de 30 anos. Acostumado a usar transporte público como principal meio de transporte enquanto morava em Recife, em 2008, Gabriel optou pelo carro por conta da dificuldade de acesso à região onde morava depois de se mudar para São Paulo.

Morador do Butantã, Gabriel viu sua rotina se transformar radicalmente com a chegada de corredores de ônibus em seu bairro em 2012, durante a gestão Fernando Haddad. Desde então, de segunda a sexta-feira, Gabriel utiliza majoritariamente o transporte coletivo como principal modal de locomoção e muito eventualmente usa o metrô ou trens da CPTM. “Embora o metrô e os ônibus não sejam suficientes hoje para atender a demanda da cidade, é inegável que melhorou o acesso a eles e também a qualidade dos serviços prestados”, concorda Guilherme.

Ônibus municipais ganharam velocidade com a criação dos corredores. Foto: WikiCommons

“Acho que existe muito preconceito com relação ao ônibus, em muitos sentidos. O trato é muito mais humano do que no metrô, por exemplo. O ritmo também é menos acelerado, você lida com os cobradores, com os outros passageiros de outro jeito”, afirma Gabriel. Para ele existe um outro fator decisivo na opção pelos corredores: a flexibilidade de rotas que o ônibus proporciona. “Ainda existe um pensamento de que é melhor pegar o ônibus num lugar e descer apenas no destino final. Mas se o trânsito estiver carregado e você tiver bilhete único, por exemplo, pode descer no corredor e pegar outro ônibus, recortar e criar novos caminhos”, comenta o administrador. 

“Isso muda nossa relação afetiva com a cidade, porque passamos a conhecer novas ruas, novas lojas, novos lugares no percurso e observando o que tem ao redor”, comenta Gabriel. Já o analista de marketing Guilherme acrescenta ainda que uma das mudanças recorrentes foi ter ganho mais tempo para leitura, um de seus hobbys. “Em 2015, quando usava carro todos os dias para ir do Ipiranga até o trabalho, no Jaguaré, eu li apenas 1 livro. Em 2016, quando passei a pegar mais ônibus, trem e metrô, li 13”, comenta satisfeito.

Um dia, quando chegou a comemorar por levar apenas (!) 50 minutos entre o trajeto de casa e o trabalho, Guilherme se deu conta de sua participação no trânsito da cidade.“Depois que comecei a prestar mais atenção nessa realidade do trânsito de São Paulo, me toquei que eu fazia parte do problema também. Eu estava sozinho num carro para cinco pessoas. Isso não faz sentido… Quantos outros carros viajam sozinhos por aí todos os dias?”, indaga.

Hoje, Guilherme eventualmente pega caronas com duas pessoas de seu bairro e que trabalham na mesma empresa que ele, com isso leva menos tempo para chegar no trabalho. No entanto, nem sempre consegue unir o útil ao agradável, pois a empresa onde trabalha tem cerca de 650 funcionários e ele não conhece todos. As carona são marcadas via aplicativo de mensagens, mas Guilherme defende que poderia ter muitas outras opções para se locomover e chegar mais rápido no trabalho caso conhecesse outros colaboradores com quem pudesse pegar carona. Deslocamento rápido e seguro é uma premissa para a saúde pública e para o bynd.

Seja gentil, ofereça e pegue caronas!
 

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